Recordo-me
com extrema clareza a explosão daquela doutoranda de Campinas , em S.Paulo,
morando só, em um apartamento ao dizer: “ Que nojo essa tal de liberdade, sendo
obrigada a fazer tudo que quero, que posso, que devo” , Fiquei reflexivo com
aquela jovem bela a reclamar um dos valores mais exigidos pelo Ser Humano, em
todos os tempos. A busca da liberdade gera rebeliões, disputa entre filhos e
pais e até guerras. Mas como disse o impacto de suas palavras instigou o meu
pensar. Mais adiante perguntei a várias pessoas o que achavam de viverem sós,
donas de seus atos. Uns respondiam solidão, problemas de comunicação, medo de
adoecerem e não terem cuidados especiais e vai por aí. Entre as mulheres
sobressaiu-se a resposta: “Tenho medo de morar só, cometer erros e ser julgada
pelos outros”. Foi quando apareceram, em vulcão, uma série de autores e
conceitos lidos ao longo da minha trajetória existencial. Que o Homem tem uma
Consciência , a qual filosoficamente se traduz numa frase: ”É o Saber que se
sabe”. Mas que ao lado desta consciência cognitiva, lógica, há uma Consciência
Moral que é a capacidade de observar seus atos dentro da comunidade e ou
cultura onde está inserido. Julgar-se perante os outros. Se está sendo
subserviente, assertivo, radical ou sectário, e até o que JULGA dos outros e os
outros JULGAM de si. Deu-me conta de que após julgar ou julgar-se será
obrigatório a escolha de seu caminho, da construção de seu “EU”, de escolher
entre muitos caminhos retos e curvos(como diz o amigo Osair Vasconcelos), qual
destino deverá seguir. É a escolha da liberdade, já tão restrita pela genética,
pela educação, pela aprendizagem social. É quando surge a responsabilidade pelo
seu destino. Isto implica um peso enorme sobre os ombros de cada um, podendo
surgir o “asco” de ser livre e assumir responsabilidade pelos próprios atos ,
obedecendo os princípios da causalidade e da casualidade( depois da física
quântica, da Teoria de M. Planck, do princípio da incerteza do átomo de
Heisemberg).
Aí
surgiu-me, nos pensamentos, um livro, lido há dez anos, de Arthur Lowen(“ O
Medo à Liberdade”),um adepto de Wilhelm Reich, outro discípulo rebelde de S. Freud.
Traduzia que a Sociedade Pós Moderna não permite que se demonstre fragilidade,
tristeza, alegrias excessivas, pois tudo tem de ser comportadamente adstrito a
normas de produtividade, de regras e limites. existentes. Pouco se permite
expor sentimentos, de se abrir ao mundo, de expandir a personalidade. Isto
torna o Homem refém, prisioneiro de seus próprios desejos, os quais ficam
encapsulados num espécie de desejo reprimido do demonstrar o que se sente.
Tenho
pensamento que o Homem não tem livre arbítrio total, embora lhe reste um
espaço, nas situações mais absurdas, pode ser livre perante sua consciência.
Tenho em mente que também não é totalmente dominado por situações adversas.
Para mim, a concepção de Baruch Spinosa, muito próxima a de Marx é de que
LIBERDADE É A CONSCIÊNCIA DOS NOSSOS LIMITES(ou necessidade, como se diz em
Filosofia), cabendo ao indivíduo a tarefa de aumentar tais limites ou
estreitá-los. Posso agir de uma maneira que não esteja submetido
obrigatoriamente ao julgamento dos outros, mas tão somente as minhas
necessidades e meus desejos, mesmo os mais secretos perante minha consciência.
mauriltonmorais@uol.com.br
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