domingo, 5 de maio de 2013

O MEDO DE VIVER EM LIBERDADE






Recordo-me com extrema clareza a explosão daquela doutoranda de Campinas , em S.Paulo, morando só, em um apartamento ao dizer: “ Que nojo essa tal de liberdade, sendo obrigada a fazer tudo que quero, que posso, que devo” , Fiquei reflexivo com aquela jovem bela a reclamar um dos valores mais exigidos pelo Ser Humano, em todos os tempos. A busca da liberdade gera rebeliões, disputa entre filhos e pais e até guerras. Mas como disse o impacto de suas palavras instigou o meu pensar. Mais adiante perguntei a várias pessoas o que achavam de viverem sós, donas de seus atos. Uns respondiam solidão, problemas de comunicação, medo de adoecerem e não terem cuidados especiais e vai por aí. Entre as mulheres sobressaiu-se a resposta: “Tenho medo de morar só, cometer erros e ser julgada pelos outros”. Foi quando apareceram, em vulcão, uma série de autores e conceitos lidos ao longo da minha trajetória existencial. Que o Homem tem uma Consciência , a qual filosoficamente se traduz numa frase: ”É o Saber que se sabe”. Mas que ao lado desta consciência cognitiva, lógica, há uma Consciência Moral que é a capacidade de observar seus atos dentro da comunidade e ou cultura onde está inserido. Julgar-se perante os outros. Se está sendo subserviente, assertivo, radical ou sectário, e até o que JULGA dos outros e os outros JULGAM de si. Deu-me conta de que após julgar ou julgar-se será obrigatório a escolha de seu caminho, da construção de seu “EU”, de escolher entre muitos caminhos retos e curvos(como diz o amigo Osair Vasconcelos), qual destino deverá seguir. É a escolha da liberdade, já tão restrita pela genética, pela educação, pela aprendizagem social. É quando surge a responsabilidade pelo seu destino. Isto implica um peso enorme sobre os ombros de cada um, podendo surgir o “asco” de ser livre e assumir responsabilidade pelos próprios atos , obedecendo os princípios da causalidade e da casualidade( depois da física quântica, da Teoria de M. Planck, do princípio da incerteza do átomo de Heisemberg).




Aí surgiu-me, nos pensamentos, um livro, lido há dez anos, de Arthur Lowen(“ O Medo à Liberdade”),um adepto de Wilhelm Reich, outro discípulo rebelde de S. Freud. Traduzia que a Sociedade Pós Moderna não permite que se demonstre fragilidade, tristeza, alegrias excessivas, pois tudo tem de ser comportadamente adstrito a normas de produtividade, de regras e limites. existentes. Pouco se permite expor sentimentos, de se abrir ao mundo, de expandir a personalidade. Isto torna o Homem refém, prisioneiro de seus próprios desejos, os quais ficam encapsulados num espécie de desejo reprimido do demonstrar o que se sente.



Tenho pensamento que o Homem não tem livre arbítrio total, embora lhe reste um espaço, nas situações mais absurdas, pode ser livre perante sua consciência. Tenho em mente que também não é totalmente dominado por situações adversas. Para mim, a concepção de Baruch Spinosa, muito próxima a de Marx é de que LIBERDADE É A CONSCIÊNCIA DOS NOSSOS LIMITES(ou necessidade, como se diz em Filosofia), cabendo ao indivíduo a tarefa de aumentar tais limites ou estreitá-los. Posso agir de uma maneira que não esteja submetido obrigatoriamente ao julgamento dos outros, mas tão somente as minhas necessidades e meus desejos, mesmo os mais secretos perante minha consciência.




mauriltonmorais@uol.com.br

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