domingo, 8 de abril de 2012

DELÍRIOS DE UM CIUMENTO


“Por que ela me deixou sem muita discussão. Quando propus a separação? Nem ofereceu resistência. Será que suas declarações de amor eram falsas. E eu pensando, me torturando para lhe dizer que não mais a amava, nada sentia pelo seu corpo e cheguei até em pensar que a odiava. Agora que estou livre, sinto necessidade de recuperá-la. Será que me traía ou estava com outro? Por que me sentia tão aliviado por haver lhe dito do meu desamor e agora ando tão torturado com as lembranças de nosso passado?

Encontrei-me com ela hoje pela manhã, sua resposta negativa não me convenceu. Perguntei detalhes: se tinha ido a motel, quem era ele, se fazia amor melhor que eu, se tinha gozado. Saia-se sempre com evasivas. Isto me tortura, quanto mais lhe pergunto sobre traição, mais sinto prazer, curiosidade, necessidade de perguntar. Disse-lhe que confessasse não mentisse. Eu a perdoaria, exigi os mínimos detalhes. Estou insatisfeito, voltarei a perguntar, a insistir.

Se passa o quê comigo? Algum tempo atrás, li num livro de Psicanálise que o homem quando se apaixona por uma mulher, incorpora-a em seu ser, seu corpo e sua alma. O apaixonado tem o outro dentro de si. Então, se a incorporo em mim vou para a cama também junto com o amante? Quem sabe, participo do prazer pela metade, a mesma quantidade de do sofrimento e dor. Só sei que sinto um prazer mórbido em perguntar detalhes.

Mas não sou homossexual, não, não. Será que sou e não sei, com esse tal de inconsciente. A única verdade que tenho é o desejo de reconquistá-la. Desprezava-a quando estava presente e agora a quero de volta. Sempre fui assim: entusiasmo-me na conquista e logo me desinteresso. Vou lutar por ela, não tolerarei perdê-la para outro, mesmo sem a certeza de amar. Posso não me controlar e cometer crime.

Um amigo aconselhou-me um investigador. Quero os mínimos detalhes; retratos, conversas telefônicas, nome de amigos e amigas, o amante, o motel e todos detalhes dessa traição. Ela já me falava de suas fantasias quando vivíamos juntos. Contou-me que sonhava, devaneava com outros homens durante o ato sexual. Até um ex-namorado de adolescência era fantasmagórico. Disse-me ainda que um psiquiatra havia lhe advertido que o ciúme que tinha de mim não era amor, mas posse e o desejo de me trair.

Ela era infiel em potencial e agora está realizando suas fantasias, tenho certeza, quem sabe se ela não foi infiel enquanto vivíamos. As mulheres são perigosas, ardilosas e inimigas das serpentes. Traem mais que os homens em fantasias e atos, mas nunca revelam, nem as suas companheiras.

Será que meu erotismo vai se recuperar com a traição? Estou sufocado. Fui eu quem a levou a ser infiel para ir com seu amante à cama. Não, eu não sou homossexual enrustido. Ou será que os olhares e as conversas dos outros falam de minha homossexualidade? Ou são delírios? Vou beber, me embriagar e dormir com minha tortura. Espero não sonhar com essa mulher “.


(TRANSCRITO PARA UM DIÁRIO)



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