“Por que ela me
deixou sem muita discussão. Quando propus a separação? Nem ofereceu resistência.
Será que suas declarações de amor eram falsas. E eu pensando, me torturando
para lhe dizer que não mais a amava, nada sentia pelo seu corpo e cheguei até
em pensar que a odiava. Agora que estou livre, sinto necessidade de
recuperá-la. Será que me traía ou estava com outro? Por que me sentia tão
aliviado por haver lhe dito do meu desamor e agora ando tão torturado com as
lembranças de nosso passado?
Encontrei-me com
ela hoje pela manhã, sua resposta negativa não me convenceu. Perguntei
detalhes: se tinha ido a motel, quem era ele, se fazia amor melhor que eu, se
tinha gozado. Saia-se sempre com evasivas. Isto me tortura, quanto mais lhe
pergunto sobre traição, mais sinto prazer, curiosidade, necessidade de
perguntar. Disse-lhe que confessasse não mentisse. Eu a perdoaria, exigi os
mínimos detalhes. Estou insatisfeito, voltarei a perguntar, a insistir.
Se passa o quê
comigo? Algum tempo atrás, li num livro de Psicanálise que o homem quando se
apaixona por uma mulher, incorpora-a em seu ser, seu corpo e sua alma. O
apaixonado tem o outro dentro de si. Então, se a incorporo em mim vou para a
cama também junto com o amante? Quem sabe, participo do prazer pela metade, a
mesma quantidade de do sofrimento e dor. Só sei que sinto um prazer mórbido em
perguntar detalhes.
Mas não sou
homossexual, não, não. Será que sou e não sei, com esse tal de inconsciente. A
única verdade que tenho é o desejo de reconquistá-la. Desprezava-a quando
estava presente e agora a quero de volta. Sempre fui assim: entusiasmo-me na
conquista e logo me desinteresso. Vou lutar por ela, não tolerarei perdê-la para
outro, mesmo sem a certeza de amar. Posso não me controlar e cometer crime.
Um amigo
aconselhou-me um investigador. Quero os mínimos detalhes; retratos, conversas
telefônicas, nome de amigos e amigas, o amante, o motel e todos detalhes dessa
traição. Ela já me falava de suas fantasias quando vivíamos juntos. Contou-me
que sonhava, devaneava com outros homens durante o ato sexual. Até um
ex-namorado de adolescência era fantasmagórico. Disse-me ainda que um
psiquiatra havia lhe advertido que o ciúme que tinha de mim não era amor, mas
posse e o desejo de me trair.
Ela era infiel
em potencial e agora está realizando suas fantasias, tenho certeza, quem sabe
se ela não foi infiel enquanto vivíamos. As mulheres são perigosas, ardilosas e
inimigas das serpentes. Traem mais que os homens em fantasias e atos, mas nunca
revelam, nem as suas companheiras.
Será que meu
erotismo vai se recuperar com a traição? Estou sufocado. Fui eu quem a levou a
ser infiel para ir com seu amante à cama. Não, eu não sou homossexual
enrustido. Ou será que os olhares e as conversas dos outros falam de minha
homossexualidade? Ou são delírios? Vou beber, me embriagar e dormir com minha
tortura. Espero não sonhar com essa mulher “.
(TRANSCRITO PARA
UM DIÁRIO)


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