quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O MORRER E A MORTE(II)





                     
Caí em mim quando fui avisado e tomei consciência de que um dia morreria Confesso que não gostei.Pois há muita diferença entre o saber e o tomar consciência da morte, já que por aqui o indivíduo deixa de existir(“ex-sistere,sair de si”do latim).Gostaria de viver muito mais,ser condenado a viver muito mais,presenciar a História em seus bons e maus momentos,ao invés de ficar observando as minhas taxas de glicose, colesterol e triglicérides,contando os dias,pressentindo os ponteiros do relógio caminharem rápido até o fim.E o pior,saber todos os dias que amigos,gênios,poetas,filósofos,com os quais convivemos se encaminham para a tumba fria e úmida das minhocas.Diz o psicanalista Portela Nunes velho mestre:”Os que dedicam a ser médicos, o fazem com medo da morte”.
E ainda há os que como se estivessem guiados por um instinto de morte,contrariando Charles Darwin,procuram o morrer em vida.Os fumantes,drogados,os que adoram o risco dos esportes adrenalínicos,corredores de automóveis a cruzarem sinais vermelhos, procuram o suicídio,consciente ou inconscientemente.Talvez por estas razões, Albert Camus tenha dito que a única questão válida da filosofia é o suicídio..
A depressão,aquele monstro terrível vive sempre rondando nossas existências numa luta permanente contra nossas auto estimas.A questão nuclear é que há pessoas que catastrofizam problemas imaginários,supervalorizam pequenos fracassos,deixando-se arrastar pelo desânimo,tristeza,perda de interesse pelas situações novas,entregando-se a morte em vida.Já outros com maior valorização de si, enfrentam os problemas reais e até os mais graves,equacionando as soluções mais lógicas e saídas mais plausíveis dentro de determinado contexto.A melhor forma de dominar a morte em vida é enriquecer esta vida com valores de criatividade e produção social.Uma existência pobre de valores junto a um “ego” biologicamente frágil é a trilha do fracasso.
Aceitar a morte como fenômeno biológico,como  morte celular, exige da pessoa “Viver como imortal,sabendo-se mortal”(Ortega y Gasset),aceitar incondicionalmente a “angústia existencial”(Kierkgaard) e ter-se como um condenado a nascer e morrer sem ter tido livre arbítrio,sem haver sido consultado,mas nem por isto perdendo a capacidade de gerir seu destino mesmo diante das situações mais dramáticas(como queria Sartre).O resto é por conta da sexta feira.Esperando a outra 
sexta,até a morte chegar.

                                                                            mauriltonmorais@uol.com.br

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