Caí em mim quando fui avisado e
tomei consciência de que um dia morreria Confesso que não gostei.Pois há muita
diferença entre o saber e o tomar consciência da morte, já que por aqui o indivíduo
deixa de existir(“ex-sistere,sair de si”do latim).Gostaria de viver muito
mais,ser condenado a viver muito mais,presenciar a História em seus bons e maus
momentos,ao invés de ficar observando as minhas taxas de glicose, colesterol e
triglicérides,contando os dias,pressentindo os ponteiros do relógio caminharem
rápido até o fim.E o pior,saber todos os dias que
amigos,gênios,poetas,filósofos,com os quais convivemos se encaminham para a
tumba fria e úmida das minhocas.Diz o psicanalista Portela Nunes velho
mestre:”Os que dedicam a ser médicos, o fazem com medo da morte”.
E ainda há os que como se
estivessem guiados por um instinto de morte,contrariando Charles Darwin,procuram
o morrer em vida.Os fumantes,drogados,os que adoram o risco dos esportes adrenalínicos,corredores
de automóveis a cruzarem sinais vermelhos, procuram o suicídio,consciente ou
inconscientemente.Talvez por estas razões, Albert Camus tenha dito que a única
questão válida da filosofia é o suicídio..
A depressão,aquele monstro terrível
vive sempre rondando nossas existências numa luta permanente contra nossas auto
estimas.A questão nuclear é que há pessoas que catastrofizam problemas
imaginários,supervalorizam pequenos fracassos,deixando-se arrastar pelo
desânimo,tristeza,perda de interesse pelas situações novas,entregando-se a
morte em vida.Já outros com maior valorização de si, enfrentam os problemas
reais e até os mais graves,equacionando as soluções mais lógicas e saídas mais
plausíveis dentro de determinado contexto.A melhor forma de dominar a morte em
vida é enriquecer esta vida com valores de criatividade e produção social.Uma
existência pobre de valores junto a um “ego” biologicamente frágil é a trilha
do fracasso.
Aceitar a morte como fenômeno
biológico,como morte celular, exige da
pessoa “Viver como imortal,sabendo-se mortal”(Ortega y Gasset),aceitar
incondicionalmente a “angústia existencial”(Kierkgaard) e ter-se como um
condenado a nascer e morrer sem ter tido livre arbítrio,sem haver sido consultado,mas
nem por isto perdendo a capacidade de gerir seu destino mesmo diante das
situações mais dramáticas(como queria Sartre).O resto é por conta da sexta
feira.Esperando a outra
sexta,até a morte chegar.

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