quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

OS DOLESCENTES DO SECULO XXl



         “A família herdada do século XlX, heterossexual nuclear, patriarcal, está morta”

               Os pais dos adolescentes da finada década de 90 têm de se conformar: já não conseguem controlar, nem transmitir muita coisa, pois a televisão e a rua se encarregam disso.
               A família herdada do século XlX, heterossexual, nuclear, transmissora de herança e informação, a velha família está morta. A moderna sociedade de consumo e televisão  ganham para ela no processo educacional.
               Cada vez menos a família tem poder decisório e educativo sobre os filhos. As mães obrigadas a trabalhar, em face das revoluções econômicas, deixam seus filhos em creches. Começa mais cedo a ditadura da escola. Meninos e meninas se “formam” em “academias” da criança, recebem diplomas como os adultos e recolhem informações e formações diferentes da casa familiar. Milhares de estímulos são bombardeados em seus cérebros, quase sempre em desacordo com o desenvolvimento neuropsicomotor numa fase pré-operatória.

“Na nova geração sensorial, a marco
do vestuário é o design da atração”

               Forma-se uma geração mais sensorial e menos reflexiva. Os novos adolescentes têm dificuldades em analisar e explanar com o cérebroesquerdo, não sabem fazer redação ou expor  logicamente as idéias. Em compensação desenvolvem o cérebro direito, sintético, emocional, intuitivo, sob o impacto de milhões de mensagens ininterruptas, em tropel, engolidas neurônios adentro.
               Na nova geração sensorial, a marca do vestuário é o “design” da atração. Quem não tem carro não namora alguém de seu nível. Como conquistar o outro sem “griffe” da moda?  - O conflito entre pais e filhos passa pela gasolina do carro, do tipo do som ou da marca do tênis. Nunca por diferenças ideológicas. O carro, a marca, o modelo, impõem a relação dinâmica entre o afeto e o objeto de amor.
               O adolescente pós-90 é “digitalizado”, formado por dois dígitos binários  - o BIT  - o zero e o um do computador. Possuidor de nova linguagem, da metalinguagem, aborrece-se com as velhas salas de aula, os anacrônicos professores e os empoeirados livros.
               Como podemos nós professores, treinados no raciocínio filosófico, falarmos para jovens que se estão preparando para o CD-ROM, livros descartáveis, casamentos de som e imagem, linguagens virtuais, distantes da análise metafísica, positivista, dialética, neopositivista, transpositivista, epistemológica, seja lá o que for?
               Como estão os pais preparados para dialogar com jovens portadores de uma linguagem diferente, difíceis de compreender a história e “fissurados” no aqui-e-agora das velocidades das informações que deixam de ser verdadeiras a cada meia hora?
               Forma-se um novo homem, com nova linguagem, Nova Ética. Sim, pois solidariedade e fraternidade, são valores opostos às mensagens de uma sociedade de consumo, individualista, competitiva, que trata melhor quem se veste bem de acordo com seus padrões de “marketing”.
               O jovem adolescente pós década de 90 não forma propriamente uma geração, pois ela é fragmentada em galeras, tribos, gangs, grupos e sub-grupos. E aí está o poder de fragmentação da mensagem da comunicação “Messenger” deste fim de século: uniformiza e desintegra.
               Quer dizer, quanto mais avança na síntese, mais esquizofrenizam-se os comportamentos. Família junta assistindo a TV é o protótipo da desagregação: ninguém se comunica, ninguém pode interromper ninguém.
               Pelo lado da uniformização de comportamentos, a banalização da violência, vista todos os dias e horas, no vídeo, inibe a capacidade de protesto em face do absurdo. Agressões e mais agressões, das cenas de TV, anestesiam a preocupação com o bárbaro. Quem fala hoje do crime da Daniela Perez e de Tim Lopes? E do índio incendiado em Brasília?
               Pelo lado da esquizofrenização afetiva, da cisão em condutas individualistas, invertem-se posturas aéticas em éticas, tal qual nos ensina a competição capitalista do “marketing” e do consumo. Dar flores à namorada, abrir a porta do carro, afastar a cadeira no restaurante, são “babaquices”, normas inaceitáveis, tanto para moças (com perdão da má palavra) como para rapazes.
               Como conseqüência, a relação homem mulher  torna-se uma competição. O bom é “ser vivo”, sabido, não parecer  um “trouxa”, “Mané”, ou “bonzinho”. As normas de casa, de preocupação com o próximo, entram em  desacordo com a ética do salve-se quem puder. Alguns jovens, educados com tais princípios, comumente entram em crise de ansiedade no convívio com seus colegas. São rotulados de bobos, ingênuos e servem às piadas . Uma adolescentes virgem, por formação familiar, por exemplo, pode-se tornar ansiosa por estar desadaptada aos novos parâmetros.
               Tal como o capitalismo onde há o centro e a periferia  no  processo de produção, os jovens também se dividem entre “mauricinhos”e “patricinhas” modelos nucleares de consumo e os “funks” que, mesmo na periferia desejam seguir os mesmos modelos de “griffe”, tênis, logotipo: querem com todo direito desfrutar do bom e do melhor.
               Os de classe alta e média alta podem se guiar pelo consumo imposto. Os de classe baixa pressionam os pais empobrecidos pela chave do carro e roupas da moda. Os periféricos usam como podem, a agressividade, para conquistar os mesmos direitos.
               Pouco adianta os teóricos de  educação doutrinarem sobre a necessidade de a família permanecer mais tempo entre si para transmitir para transmitir informações e formações. A sociedade capitalista desintegrou-a. cada vez casa-se mais tarde e menos. Cada vez mais a família desintegra-se cedo e os filhos dos divorciados chegam, em algumas situações, a constituir 1/3 das salas de aula. A família não transmite nem informações nem formação, nem herança. Perdeu suas funções sociológicas. O século XXI será dos “Bad Boys” das “gangs” , tribos e galeras, seja na esfera politica, executiva, jurídica, ou social.  
                                                                            mauriltonmorais@uol.com.br

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