Os pais dos
adolescentes da finada década de 90 têm de se conformar: já não conseguem
controlar, nem transmitir muita coisa, pois a televisão e a rua se encarregam
disso.
A família herdada do
século XlX, heterossexual, nuclear, transmissora de herança e informação, a
velha família está morta. A moderna sociedade de consumo e televisão ganham para ela no processo educacional.
Cada vez menos a
família tem poder decisório e educativo sobre os filhos. As mães obrigadas a
trabalhar, em face das revoluções econômicas, deixam seus filhos em creches.
Começa mais cedo a ditadura da escola. Meninos e meninas se “formam” em
“academias” da criança, recebem diplomas como os adultos e recolhem informações
e formações diferentes da casa familiar. Milhares de estímulos são bombardeados
em seus cérebros, quase sempre em desacordo com o desenvolvimento
neuropsicomotor numa fase pré-operatória.
“Na
nova geração sensorial, a marco
do
vestuário é o design da atração”
Forma-se uma
geração mais sensorial e menos reflexiva. Os novos adolescentes têm
dificuldades em analisar e explanar com o cérebroesquerdo, não sabem fazer
redação ou expor logicamente as idéias.
Em compensação desenvolvem o cérebro direito, sintético, emocional, intuitivo,
sob o impacto de milhões de mensagens ininterruptas, em tropel, engolidas
neurônios adentro.
Na nova geração
sensorial, a marca do vestuário é o “design” da atração. Quem não tem carro não
namora alguém de seu nível. Como conquistar o outro sem “griffe” da moda? - O conflito entre pais e filhos passa pela
gasolina do carro, do tipo do som ou da marca do tênis. Nunca por diferenças
ideológicas. O carro, a marca, o modelo, impõem a relação dinâmica entre o
afeto e o objeto de amor.
O adolescente
pós-90 é “digitalizado”, formado por dois dígitos binários - o BIT
- o zero e o um do computador. Possuidor de nova linguagem, da
metalinguagem, aborrece-se com as velhas salas de aula, os anacrônicos
professores e os empoeirados livros.
Como podemos nós
professores, treinados no raciocínio filosófico, falarmos para jovens que se
estão preparando para o CD-ROM, livros descartáveis, casamentos de som e
imagem, linguagens virtuais, distantes da análise metafísica, positivista,
dialética, neopositivista, transpositivista, epistemológica, seja lá o que for?
Como estão os pais
preparados para dialogar com jovens portadores de uma linguagem diferente, difíceis
de compreender a história e “fissurados” no aqui-e-agora das velocidades das
informações que deixam de ser verdadeiras a cada meia hora?
Forma-se um novo
homem, com nova linguagem, Nova Ética. Sim, pois solidariedade e fraternidade,
são valores opostos às mensagens de uma sociedade de consumo, individualista,
competitiva, que trata melhor quem se veste bem de acordo com seus padrões de
“marketing”.
O jovem
adolescente pós década de 90 não forma propriamente uma geração, pois ela é
fragmentada em galeras, tribos, gangs, grupos e sub-grupos. E aí está o poder
de fragmentação da mensagem da comunicação “Messenger” deste fim de século:
uniformiza e desintegra.
Quer dizer,
quanto mais avança na síntese, mais esquizofrenizam-se os comportamentos.
Família junta assistindo a TV é o protótipo da desagregação: ninguém se
comunica, ninguém pode interromper ninguém.
Pelo lado da
uniformização de comportamentos, a banalização da violência, vista todos os
dias e horas, no vídeo, inibe a capacidade de protesto em face do absurdo.
Agressões e mais agressões, das cenas de TV, anestesiam a preocupação com o
bárbaro. Quem fala hoje do crime da Daniela Perez e de Tim Lopes? E do índio
incendiado em Brasília?
Pelo lado da
esquizofrenização afetiva, da cisão em condutas individualistas, invertem-se
posturas aéticas em éticas, tal qual nos ensina a competição capitalista do
“marketing” e do consumo. Dar flores à namorada, abrir a porta do carro,
afastar a cadeira no restaurante, são “babaquices”, normas inaceitáveis, tanto
para moças (com perdão da má palavra) como para rapazes.
Como conseqüência,
a relação homem mulher torna-se uma
competição. O bom é “ser vivo”, sabido, não parecer um “trouxa”, “Mané”, ou “bonzinho”. As normas
de casa, de preocupação com o próximo, entram em desacordo com a ética do salve-se quem puder.
Alguns jovens, educados com tais princípios, comumente entram em crise de
ansiedade no convívio com seus colegas. São rotulados de bobos, ingênuos e
servem às piadas . Uma adolescentes virgem, por formação familiar, por exemplo,
pode-se tornar ansiosa por estar desadaptada aos novos parâmetros.
Tal como o
capitalismo onde há o centro e a periferia no
processo de produção, os jovens também se dividem entre “mauricinhos”e “patricinhas”
modelos nucleares de consumo e os “funks” que, mesmo na periferia desejam
seguir os mesmos modelos de “griffe”, tênis, logotipo: querem com todo direito
desfrutar do bom e do melhor.
Os de classe alta e
média alta podem se guiar pelo consumo imposto. Os de classe baixa pressionam os
pais empobrecidos pela chave do carro e roupas da moda. Os periféricos usam
como podem, a agressividade, para conquistar os mesmos direitos.
Pouco adianta os teóricos
de educação doutrinarem sobre a
necessidade de a família permanecer mais tempo entre si para transmitir para
transmitir informações e formações. A sociedade capitalista desintegrou-a. cada
vez casa-se mais tarde e menos. Cada vez mais a família desintegra-se cedo e os
filhos dos divorciados chegam, em algumas situações, a constituir 1/3 das salas
de aula. A família não transmite nem informações nem formação, nem herança. Perdeu
suas funções sociológicas. O século XXI será dos “Bad Boys” das “gangs” ,
tribos e galeras, seja na esfera politica, executiva, jurídica, ou social.

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