O tempo e a vida acadêmica foram amadurecendo em mim a idéia de que o psiquiatra-terapeuta precisa,além da Bioogia conhecimentos de antropologia cultural,teorias de personalidade e estudos da cultura social.Tudo isto dentro de critérios bem estabelecidos da filosofia da ciência(da epistemologia) que evita curandeirismos e charlatanismos de pirâmides,gnomos,florais,etc e tal ,muito em voga na atualidade.
Foi Ralph Linton em seu ciclo de conferências americanas quem me chamou primeiro a atenção para o entendimento de que há dados comuns em diversas sociedades e culturas(desde aquelas estudadas por Ford e Bearch), como se houvesse um estruturalismo,uma universalidade de necessidades básicas,tanto fisiológicas como aprendidas dentro de cada indivíduo. E a clínica se encarregou de me convencer da imperiosidade das carências pessoais-universais de cada cliente.
A primeira grande necessidade psíquica do Homem é a de que sua produção,seu trabalho, seu esforço,seu amor seja reconhecido pelo grupo social.Precisa de reação emocional de outros indivíduos.Corresponde ao reforço positivo no condicionamento S-R de Skinner.A reação favorável dos demais motiva a pessoa para uma conduta socialmente aceitável.As pessoas permanecem fiéis aos costumes sociais tanto pela necessidade de aprovação quanto pelo medo da punição.Os seres que não são amados podem até viver,mas não existir(no sentido existencial de ex-sistere,sair de si ).
A segunda necessidade universal que observamos na clínica e se coaduna com as prioridades que sociologia e a antropologia nos fornecem em suas pesquisas é a segurança a longo prazo.Há casos em que a sociedade é o paciente e há outros onde o indivíduo vence as adversidades naturais da vida.Como há também os que não tendo maiores dificuldades,diante de situações mais imaginárias,desenvolvem quadros de ansiedade generalizada,fobias sociais ou estresses agudos.
A terceira e última grande necessidade de motivação da conduta humana é a de enfrentar novas experiências em sociedades diferentes ou até em culturas diferentes.O novo é fundamental para a reciclagem da personalidade e traz em seu bojo a angústia de separação que teima em nos acompanhar pela vida afora.É novidade a separação dos pais,a primeira ida à escola,o primeiro encontro afetivo, a entrada na faculdade, a formatura, o falar com autoridades,a mudança de escola,enfim tudo aquilo que desperta o “reflexo de exploração”como nos cães experimentais de I.P.Pavlov,os quais ficavam de orelha em pé diante de novos estímulos.
Tais necessidades básicas só tornam o indivíduo saudável se houver a combinação da genética com o ambiente e a experiência em situações tanto favoráveis quanto desfavoráveis dentro da sociedade e da cultura.É esta flexibilidade que nos distingue na individualidade.Do contrário seríamos insetos automatizados.
Terapeuta cognitivo-comportamental.
Maurilton Morais

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