Na clássica visão psicológica, a paixão é um estado afetivo,
tiranizante, monopolizador do campo da consciência, direcionando-a para
pensamentos e ações únicas, em detrimento de tudo mais. Nenhum raciocínio
lógico convence o apaixonado. Só o pensamento mágico, seja no amor, no jogo
patológico, na sexualidade tem seu espaço na consciência. Já em Aristóteles, em
sua “Ética a Nicômaco” o problema foi levando a extensão de sua óptica (como
patologia) até a era Medieval com Sto Tomás
em sua “Summa Theologica” (escolástica). Os filósofos epicuristas
exaltavam a paixão, até por princípio, ao contrário dos filósofos estóicos que
condenavam as paixões sem piedade dos apaixonados. Sto Agostinho definia as
paixões como “movimentos da alma irracional, causados pela percepção do bem e
do mal”, sempre nocivas e perigosas, já que fogem ao auto domínio do ego. Sto
Tomás, já era mais piedoso com os pobres apaixonados, afirmando que eles
poderiam derivar a paixão para objetos bons e dignos. Lembremo-nos de Descartes
em seu célebre “Tratado das Paixões”, estabelecendo as paixões como tudo aquilo
que fugisse da vontade humana, mas afirmando que elas podem ser nobres e úteis,
além da razão ter o poder de manter o equilíbrio de tais sentimentos. David
Hume no “Tratado da Natureza Humana”, foi impiedoso: “A razão é sempre escrava
da paixão”. Poderia citar Rousseau, Spinoza, Montaigne e tantos outros para os
quais as paixões são apetites cegos e não domáveis, perturbando a reflexão, o
juízo crítico, só produzindo depressões, violências, fanatismos ou sectarismos.
Mas vou parar em Kant em sua memorável “Antropologia” que assim disse; ”A
emoção é como a água que rompe a represa, a paixão é como a torrente que cava
mais seu leito”.
Para nós, as paixões não são, com antecedência, nem boas, nem más em si
mesmas, dependendo da função de seus objetivos e da nossa mente saudável ou
não. Podem até servir a justiça, a verdade ou a bondade. Bem diferente quando a
paixão deriva para um ciúme patológico como em Otelo por Desdêmona; Ou para
ambição do poder como em Macbeth (Shakespeare); Ou para o ódio como Fiodor Karamazov, definido por Dostoievski
“como aranha cruel da voluptuosidade”. Fico com aqueles apaixonados de amor que
se resignam com a perda, sem absolutismos ou generalizações. Ou com aqueles que
transformam a paixão em amor, sem cobrar perdas e danos.
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