domingo, 17 de março de 2013

O QUE É, AFINAL, A PAIXÃO?




Na clássica visão psicológica, a paixão é um estado afetivo, tiranizante, monopolizador do campo da consciência, direcionando-a para pensamentos e ações únicas, em detrimento de tudo mais. Nenhum raciocínio lógico convence o apaixonado. Só o pensamento mágico, seja no amor, no jogo patológico, na sexualidade tem seu espaço na consciência. Já em Aristóteles, em sua “Ética a Nicômaco” o problema foi levando a extensão de sua óptica (como patologia) até a era Medieval com Sto Tomás  em sua “Summa Theologica” (escolástica). Os filósofos epicuristas exaltavam a paixão, até por princípio, ao contrário dos filósofos estóicos que condenavam as paixões sem piedade dos apaixonados. Sto Agostinho definia as paixões como “movimentos da alma irracional, causados pela percepção do bem e do mal”, sempre nocivas e perigosas, já que fogem ao auto domínio do ego. Sto Tomás, já era mais piedoso com os pobres apaixonados, afirmando que eles poderiam derivar a paixão para objetos bons e dignos. Lembremo-nos de Descartes em seu célebre “Tratado das Paixões”, estabelecendo as paixões como tudo aquilo que fugisse da vontade humana, mas afirmando que elas podem ser nobres e úteis, além da razão ter o poder de manter o equilíbrio de tais sentimentos. David Hume no “Tratado da Natureza Humana”, foi impiedoso: “A razão é sempre escrava da paixão”. Poderia citar Rousseau, Spinoza, Montaigne e tantos outros para os quais as paixões são apetites cegos e não domáveis, perturbando a reflexão, o juízo crítico, só produzindo depressões, violências, fanatismos ou sectarismos. Mas vou parar em Kant em sua memorável “Antropologia” que assim disse; ”A emoção é como a água que rompe a represa, a paixão é como a torrente que cava mais seu leito”.



Para nós, as paixões não são, com antecedência, nem boas, nem más em si mesmas, dependendo da função de seus objetivos e da nossa mente saudável ou não. Podem até servir a justiça, a verdade ou a bondade. Bem diferente quando a paixão deriva para um ciúme patológico como em Otelo por Desdêmona; Ou para ambição do poder como em Macbeth (Shakespeare); Ou para o ódio como  Fiodor Karamazov, definido por Dostoievski “como aranha cruel da voluptuosidade”. Fico com aqueles apaixonados de amor que se resignam com a perda, sem absolutismos ou generalizações. Ou com aqueles que transformam a paixão em amor, sem cobrar perdas e danos.

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