Até
meus sessenta anos não havia atinado que um dia iria morrer. Até que um dia
alguém perguntou-me com quem deixaria minha clientela, meus livros, meus parcos
bens, quando viesse a falecer. Foi como uma machadada no meio do cérebro,
levando-me a pensar como Ortega y
Gasset que o Homem é o único animal que vive como se fosse imortal. Então
voltei as minhas leituras de Max Scheler, quem mais dentro da fenomenologia
distinguiu os sentimentos entre os vitais(angústia vital, a qual vem de
dentro), anímicos(que surgem das relações interpessoais, como a tristeza pela
perda) além dos espirituais e existenciais(que só o Ser Humano os possuem).
Separei, então, na Terapia Cognitiva e
na Fenomenologia existencial que não tinha medo da morte, assim como aprendi a
discriminar o pesar da tristeza simples, do desgosto, caracterizar desespero,
repugnância , a alegria e o júbilo, o otimismo e a satisfação, o ressentimento
e o ódio. Foi aí que aprendi a separar o medo e a ansiedade(que acontece até
nos animais inferiores na escala filogenética), da angústia existencial,
apanágio do Homem. Muitas pessoas vivem mal consigo, por não saberem
diferenciar seus sentimentos e emoções.
Foi
um teólogo protestante dinamarquês Soren Kierkgaard quem soltou o primeiro
grito: ”A angústia Existencial é a vertigem da liberdade”. Para ele , os
sentimentos de queda, culpa, pecado vem do fato de sermos lançados ao futuro,
ao nada. Como em Nietzche, a angústia é
nuclear e intrínseca face a luta entre o apolíneo(individual) e o dionisíaco(universal),
na natureza humana. Antes de tudo é necessário dizer que o medo(quando há algo
de real para o termos), a ansiedade(criação imaginária sem que haja algo real)
e a angústia existencial sejam fenômenos diferentes , podem coexistir no mesmo
indivíduo.
A
angústia existencial traduzindo de forma simples, desde Heidegger, é um ser
lançado ao mundo e abandonado por aí em sua liberdade e destino. É o único que
sabe que vai morrer. É um Ser-para-a Morte. Mas isto não implica em aceitar
passivamente a Morte. Tanto que Sartre em “O Ser e o Nada” diz:” O Homem deve
criar sua própria essência...o Homem deve fazer-se e não ser senão aquilo que
se faz, ou ainda:” O Homem sem apoios, sem socorro algum, está condenado, a
cada instante a inventar o Homem!”. De maneira simples, ainda, sem aprofundar a
filosofia do “Dasein” de Heidegger, o existencialismo não é um pessimismo. É
uma forma de nos sacudirmos do “ Nada”, produzirmos algo, fugirmos da
inautenticidade(Ser como os outros) e lançarmo-nos , seja pela “Náusea”(genial
novela Sartreana) e pelo engajamento-“ O Homem é livre para comprometer-se”. É
como se a angústia descobrisse o NADA.
Sintetizando,
o medo é o sentimento vital diante do perigo iminente. A ansiedade é o
sentimento imaginário que nem pode acontecer, caindo na patologia, no pânico. A
angústia Existencial é um sentimento, na estratificação de Max Scheler, não
doentio, inerente a condição humana, um meio para que o Ser-no-Mundo (DASEIN, para
Heideger) se encontre na existência, mesmo pagando um preço alto da consciência
autêntica e solitária da morte.
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