domingo, 24 de março de 2013

DA ANGÚSTIA NEURÓTICA A ANGÚSTIA EXISTENCIAL






Até meus sessenta anos não havia atinado que um dia iria morrer. Até que um dia alguém perguntou-me com quem deixaria minha clientela, meus livros, meus parcos bens, quando viesse a falecer. Foi como uma machadada no meio do cérebro, levando-me a pensar como   Ortega y Gasset que o Homem é o único animal que vive como se fosse imortal. Então voltei as minhas leituras de Max Scheler, quem mais dentro da fenomenologia distinguiu os sentimentos entre os vitais(angústia vital, a qual vem de dentro), anímicos(que surgem das relações interpessoais, como a tristeza pela perda) além dos espirituais e existenciais(que só o Ser Humano os possuem). Separei, então,  na Terapia Cognitiva e na Fenomenologia existencial que não tinha medo da morte, assim como aprendi a discriminar o pesar da tristeza simples, do desgosto, caracterizar desespero, repugnância , a alegria e o júbilo, o otimismo e a satisfação, o ressentimento e o ódio. Foi aí que aprendi a separar o medo e a ansiedade(que acontece até nos animais inferiores na escala filogenética), da angústia existencial, apanágio do Homem. Muitas pessoas vivem mal consigo, por não saberem diferenciar seus sentimentos e emoções.



Foi um teólogo protestante dinamarquês Soren Kierkgaard quem soltou o primeiro grito: ”A angústia Existencial é a vertigem da liberdade”. Para ele , os sentimentos de queda, culpa, pecado vem do fato de sermos lançados ao futuro, ao nada. Como em Nietzche, a angústia  é nuclear e intrínseca face a luta entre o apolíneo(individual) e o dionisíaco(universal), na natureza humana. Antes de tudo é necessário dizer que o medo(quando há algo de real para o termos), a ansiedade(criação imaginária sem que haja algo real) e a angústia existencial sejam fenômenos diferentes , podem coexistir no mesmo indivíduo.
A angústia existencial traduzindo de forma simples, desde Heidegger, é um ser lançado ao mundo e abandonado por aí em sua liberdade e destino. É o único que sabe que vai morrer. É um Ser-para-a Morte. Mas isto não implica em aceitar passivamente a Morte. Tanto que Sartre em “O Ser e o Nada” diz:” O Homem deve criar sua própria essência...o Homem deve fazer-se e não ser senão aquilo que se faz, ou ainda:” O Homem sem apoios, sem socorro algum, está condenado, a cada instante a inventar o Homem!”. De maneira simples, ainda, sem aprofundar a filosofia do “Dasein” de Heidegger, o existencialismo não é um pessimismo. É uma forma de nos sacudirmos do “ Nada”, produzirmos algo, fugirmos da inautenticidade(Ser como os outros) e lançarmo-nos , seja pela “Náusea”(genial novela Sartreana) e pelo engajamento-“ O Homem é livre para comprometer-se”. É como se a angústia descobrisse o NADA.



Sintetizando, o medo é o sentimento vital diante do perigo iminente. A ansiedade é o sentimento imaginário que nem pode acontecer, caindo na patologia, no pânico. A angústia Existencial é um sentimento, na estratificação de Max Scheler, não doentio, inerente a condição humana, um meio para que o Ser-no-Mundo (DASEIN, para Heideger) se encontre na existência, mesmo pagando um preço alto da consciência autêntica e solitária da morte.


 mauriltonmorais@uol.com.br

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