quinta-feira, 7 de junho de 2012

AMOR E POSSE



O antagonismo entre amor e posse é um sério problema nas relações afetivas. O primeiro está ligado a um afeto positivo, um mundo melhor, o altruísmo. A posse é mais próxima do instinto de destruição  do outro, narcisismo e egoísmo. Isto seria mais simples se pudéssemos separar o amor e ódio, vida e morte, amor e paixão, razão e emoção, quando em verdade a história de cada pessoa e da própria humanidade é uma luta ou conjunção eterna destes opostos.



É um velha luta entre o biológico e o social, como demonstra a História das civilizações, a filosofia e a Bíblia e até os romances, muito mais que os tratados de Psiquiatria e Psicologia. Amor e Posse, amor e ódio andam juntos quando o Novo Testamento diz: ”Amai vosso inimigo” e o Antigo Testamento afirma: “ Amai ao estrangeiro” . Em a “Queda” de Albert Camus, percebe-se a intenção do autor argelino em demonstrar o ser humano luta para vencer seu narcisismo ou que amamos a nós mesmos e projetamos a carência nos outros. As coisas acontecem a nossa volta como se não existissem ,já que vemos mais a nós. É como Chaplin ao sintetizar:” A Vida é uma questão local”. As coisas no mundo ocorrem com total desinteresse e não participação de nossos seres narcísicos e egoístas. Pelo desinteresse para com os outros, deixamos de ser nós mesmos. É um paradoxo da existência. Para Francis Bacon o Homem tem dois instintos: o individual e o social . Transpondo para a psiquiatria luminosa de Ludwig Biswanger o Homem deve ser mais-além-do-mundo (e não só um ser-no-mundo, como dizia Heidegger), ou seja, com capacidade de amar. A personalidade narcísica não tem capacidade de amar e adoece. O narcísico tem posse.


O que tem o dom da posse usa o controle autocrático ao invés da democracia amorosa, satisfaz-se em diminuir o outro ao invés de vê-lo crescer, ama mais ao poder que ao humano, muito mais a tendência a morte que a vida. Por estas e outras, Erich Fromm-“ O Coração do homem “- situa posse como necrófila e o amor como biófilo . Na versão Salomônica a mãe ilegítima preferia a criança morta, partida ao meio que entregue a outra. E em nome de Cristo (amor) fabricaram-se guerras(posse). Guerras Santas, dos Trinta Anos, Inquisições e Torquemadas.

O amor é uma qualidade essencialmente humana, haja vista a arte do encontro (que saudades do Vinicius), Pena que o amor, por vezes, se transforme em ciúme que biologicamente teima em acompanhar a evolução das espécies, desde as aves até os chipanzés, bonomos, orangotangos, chipanzés, gatos e cachorros. Nem o amor comunitário ,conventos e seminários eliminaram o ciúme.


Um comentário:

  1. Parabéns Dr. Maurilton, gosto de ler tudo que vc escreve.
    Um abraço,
    Zildete

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