É grande, muito grande
mesmo, o número de mulheres casadas e infelizes no relacionamento com seus
companheiros. Trata-se de uma dor surda, silenciosa, calada, sufocada, nunca
revelada. Guarda a discrição de Penélope, só que, com os tempos modernos, essa dor
está prestes a explodir. São mulheres vulneráveis ao menor aceno de romantismo,
à leve perspectiva de afago, à ínfima possibilidade de gentileza. Por isso,
toda a cautela com as mulheres casadas e infelizes é pouco.As mulheres têm a
ínfima capacidade de guardar mágoas. Muito mais que os homens. A grosseria, a
palavra mal dita, o esquecimento da data do aniversário, o fazer amor e
virar-se para o lado, as suspeitas infundadas de infidelidade, o adultério não
consentido, as promessas não cumpridas, a troca pelos amigos nas bebedeiras, o
apego rígido à lógica do trabalho em detrimento das filigranas do amor, tudo
isso é motivo de mágoa que os homens nas suas insensibilidades não percebem.
Insensibilidade, pois os homens nem atinam o processo de sofrimento pelo qual
passam suas companheiras. Absorvidos pela lógica do poder formal nem sentem que
há um poder informal da sedução, como fazem os pássaros.Poder-se-ia até advogar
que as mulheres reclamam do sexo genital, da penetração. Não é bem assim. Como
os homens têm até mais facilidade de dissociar sexo genital da afetividade,
julgam eles em suas santas ignorâncias sentimentais que a assistência quase
diária é suficiente. Ledo engano. As mulheres têm um espectro mais amplo: Há o
antes, o durante e o depois. O antes, é todo um preparo psicológico-afetivo de
encantamento e conquista. O durante é a prática efetiva do pênis ereto, das
manipulações eróticas e das variações do ato sexual. O depois é o prolongamento
do prazer do abraço de quem sentiu feliz e continuará eternamente deslumbrado.
O homem que recebe a amada com um abraço, que dialoga antes, que perfura como
um soldado em guerra e que se recolhe na humildade do guerreiro vencido, tem
muito mais possibilidade de se encontrar com a alma feminina. Por isso, nem todas
as mulheres providas de sexo genital são felizes.Boa parte dos homens são
traídos e nem sabem. Na vã ilusão de que são donos do pedaço, nem desconfiam da
sutileza de suas mulheres e de suas viagens longínquas. E o mais interessante:
milhares de mulheres não têm o mínimo de lógica quando se apaixonam. A paixão
em si já é ilógica, porém elas fazem questão de a levar até os limites do
imponderável. Por causa disso, quando uma mulher infeliz no casamento se
apaixona por outro, os danos ou resultados são bem mais imensuráveis. Uma
mulher infeliz quando se apaixona por alguém, é igual a uma verdadeira explosão
ecológica. O ecossistema se desintegra.Afora o suicídio, as mulheres casadas e
infelizes têm poucas saídas para contornar a dor: A fantasia extraconjugal para
um passado distante ou para o presente bem próximo; o adultério desvairado
e inconsequente; o adultério saudável e equilibrador; o conformismo de
quem não tem solução; a separação brusca ou negociada e finalmente a neurose de
ansiedade ou a loucura total.As mais conservadoras ficam na fantasia
extraconjugal, caem no marasmo do conformismo ou desembocam nos distúrbios de
ansiedade, pânico e fobias. A separação brusca ou negociada, ou o adultério
desvairado e inconsequente, trazem traumas, embora com capacidade de
recuperação posterior, pois nem sempre quem vai ao fundo do poço lá permanece e
às vezes até renasce. Como o infeliz conformismo conjugal é prejudicial para a
saúde mental da mesma forma que o adultério destemperado. Temos observado
grande número de fêmeas seguindo o padrão masculino: mantém um adultério calmo,
sem maiores envolvimentos, sem a patologia da possessividade, adotando a saída
prática e não traumática para o conflito conjugal insolucionável. Não sentem
culpa, são discretas e eficientes e algumas afirmam que o adultério saudável,
nesses casos até servem para manter o equilíbrio conjugal. Quer dizer, as
mulheres já estão se raciocinando em semelhança com os homens. O perigo é
haver um envolvimento passional brusco de uma das partes, pois com fogo e palha
não se brinca. É incêndio na certa.
Maurilton Morais

Acredito que nascemos e vivemos para sermos felizes e uma relação de troca deve ser prazerosa. Submeter-se a uma situação por conveniência, status, aparência, religião, filhos é um crime contra a natureza humana. E como todo crime... na minha opinião, não compensa.
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